The Dreamers, de
Bernardo Bertolucci.









Uma porta aberta para Paris, para o cinema, para o espírito de 68, para a juventude.
Matthew diz-nos que na Cinemateca se senta sempre na fila da frente, tal como os outros insaciáveis, para receber as imagens enquanto estão frescas, enquanto estão novas.
E é num profundo exercício de cinefilia que Bertolucci nos envolve desde o início, com a maneira ímpar com que “pinta” cada cena, com a magnífica Cinémathèque Française, as manifestações contra o afastamento de Henri Langlois e a aparição de Jean-Pierre Léaud, imitando o discurso por ele proferido mais de 30 anos antes, carregando o filme de uma nostalgia que arrastará até aos créditos finais.
Três jovens quebram convenções, apaixonam-se, experimentam, discutem Clapton e Hendrix, Keaton e Chaplin, discutem a Guerra do Vietname, discutem o maoísmo, decidem morrer... tudo pontuado por cenas clássicas do cinema europeu e americano.
Tentam unir pelos corpos aquilo que apenas o cinema pode unir.
Vivem juntos num clássico e espaçoso apartamento parisiense. Raramente saem. Lá fora está a revolução. O Maio de 68 aproxima-se. Theo e Isabelle vivem num microcosmos para o qual arrastam Matthew, fingem para eles próprios não saber o que se passa nas ruas, quando eles próprios são reflexo disso. Discutem Mao e bebem vinho. Até que, pela janela, o microcosmos é quebrado. “Dans la rue!”.
Serão forçados a descobrir-se, como o leão que se torna criança.