sábado, 27 de março de 2010

The Dreamers

The Dreamers, de Bernardo Bertolucci.



















Uma porta aberta para Paris, para o cinema, para o espírito de 68, para a juventude.

Matthew diz-nos que na Cinemateca se senta sempre na fila da frente, tal como os outros insaciáveis, para receber as imagens enquanto estão frescas, enquanto estão novas.

E é num profundo exercício de cinefilia que Bertolucci nos envolve desde o início, com a maneira ímpar com que “pinta” cada cena, com a magnífica Cinémathèque Française, as manifestações contra o afastamento de Henri Langlois e a aparição de Jean-Pierre Léaud, imitando o discurso por ele proferido mais de 30 anos antes, carregando o filme de uma nostalgia que arrastará até aos créditos finais.

Três jovens quebram convenções, apaixonam-se, experimentam, discutem Clapton e Hendrix, Keaton e Chaplin, discutem a Guerra do Vietname, discutem o maoísmo, decidem morrer... tudo pontuado por cenas clássicas do cinema europeu e americano.

Tentam unir pelos corpos aquilo que apenas o cinema pode unir.

Vivem juntos num clássico e espaçoso apartamento parisiense. Raramente saem. Lá fora está a revolução. O Maio de 68 aproxima-se. Theo e Isabelle vivem num microcosmos para o qual arrastam Matthew, fingem para eles próprios não saber o que se passa nas ruas, quando eles próprios são reflexo disso. Discutem Mao e bebem vinho. Até que, pela janela, o microcosmos é quebrado. “Dans la rue!”.

Serão forçados a descobrir-se, como o leão que se torna criança.

9 comentários:

  1. Um filme delicioso, que me marcou profundamente. Sempre que agora vou ao cinema lembro-me das palavras do Mathew. Lembra os filmes franceses da nouvelle vague que, por sua vez, relembram a facção intelectual e provocatória dos jovens - que tende a desaparecer. E, sim, um exercício de cinefilia estrondoso. É, também por outras razões, dos meus preferidos. E o Louis Garrel tem um charme que derrete qualquer um!

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  2. Obrigado.

    Acho que é impossível não lembrar as palavras do Matthew, acontece-me o mesmo.

    Claro, raramente um período de tempo foi tão intimamente ligado ao cinema como estes anos 60 parisienses o foram à Nouvelle Vague. Aquelas imagens da manifestação na Cinemateca com Léaud, Truffaut, etc... muito bom.

    Quanto ao Louis... as imagens dizem tudo, e garanto que não foram escolhidas ao acaso.

    Abraço.

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  3. É um dos meus filmes preferidos que me tocou imenso. Já o revi algumas vezes e é uma obra soberba.

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  4. Tão ousado quanto irresistível, Os Sonhadores é um filme fascinante. Sob a sóbria e sempre inspirada realização de Bernardo Bertolucci, e homenageando o cinema e a arte como poucos, esta obra detentora de um elenco e encenação notáveis, canta o idealismo, a paixão e a auto-descoberta de um grupo de adolescentes alienados. Eva Green está magnífica à frente desta rara e estimulante, ao mesmo tempo perversa, ingressão pela sétima arte. Grande filme.

    Cumps.
    Roberto Simões
    CINEROAD – A Estrada do Cinema

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  5. É uma das grandes falhas que ainda estão por colmatar. Parece-me que vá ser do meu agrado. Mas já o procurei no mercado imensas vezes, e ainda não o encontrei!

    Abraço

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  6. A revolução do Maio de 68 visto por 3 jovens.
    Mathew conhece Theo e Isabelle.Une-os a paixão pelo cinema.
    Mas lentamente é impelido para um mundo que em que a sexualidade vai-se tornando a única forma de comunicar e expressão da identidade. Reticente ao principio, vai-se entregando.

    Presos no tempo(o do cinema Clássico) e no espaço, enquanto o mundo muda do lado de fora da janela, dá-se uma explosão da sexualidade.

    Perto do final estas três personagens cresceram com tudo o que de bom e de mau isso tem. sexo,intimidade,amizade,amor, tudo é misturado e confundido à custa da intensidade tão própria de quem se está a descobrir.

    Mas a cena final mostra-nos que não há revoluções sem custos. Mathew já não se sente ligado a Isabelle e Theo.Afinal é lembrado que está num mundo que não é o seu.

    Mas enquanto o mundo fervilhava do lado de fora da janela, fizeram a única revolução que realmente os uniu! A sexual!


    Abraço
    lost_paradise

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  7. Discordo em parte quando dizes que a sexualidade é o único elo de ligação entre eles. Apesar de algo diferente da minha, uma excelente visão do filme lost, como me habituaste.

    Abraço.

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  8. isto de escrever posts às três pancadas tem disto. Também acho que se identificavam na paixão pela Arte e cultura e a forma como as abordavavam e discutiam.Aqui as diferenças esbatiam-se em tudo o resto. Mas quando as conversas resvalaram para questões ideológicas e políticas, tudo muda. Theo cita de um livro a certa altura:
    "...A revolution is an uprising, a violent act by which one class overthrows another."

    Diferenca insanável com Mathew que culmina com a cena final do filme.

    Outro tema do filme, Arte e cultura enquanto elementos agregadores, política e ideologia enquanto elementos desagregadores.


    PS. Continua o excelente trabalho. Gosto bastante da divisão filmes/cenas e a sua decomposição.

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  9. Obrigado. Ainda considero fase experimental eheh.

    Sim, mas o próprio Theo não está certo de nada. E o Matthew diz-lhe mesmo que se ele acreditasse naquilo estaria lá fora, na rua.
    Como disseste, estão a descobrir-se.

    Mas gostei da forma como terminaste e é uma ideia que corroboro e que aliás me fez lembrar uma resposta do Kieslowski (que é mais um cineasta que te "devo", se bem te lembras):

    "It comes from a deep-rooted conviction that if there is anything worthwhile doing for the sake of culture, then it is touching on subject matters and situations which link people, and not those that divide people. There are too many things in the world which divide people, such as religion, politics, history, and nationalism. If culture is capable of anything, then it is finding that which unites us all. And there are so many things which unite people. It doesn't matter who you are or who I am, if your tooth aches or mine, it's still the same pain. Feelings are what link people together, because the word 'love' has the same meaning for everybody. Or 'fear', or 'suffering'. We all fear the same way and the same things. And we all love in the same way. That's why I tell about these things, because in all other things I immediately find division."

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