








Depois de The Dreamers, estamos de volta a 1968 e à contracultura, num dos mais memoráveis ensaios sobre a sociedade. Voltamos a ser leão.
O cenário é uma escola britânica que funciona em regime de internato e que baseia o seu funcionamento, como tantas outras, na ordem, na repressão e na disciplina. Tudo é controlado ao mais infímo pormenor, a tradição britânica do “fagging” obriga os alunos mais novos a servir os mais velhos, não são permitidos desvios à ordem e à hierarquia e os castigos chegam a dolorosas punições físicas.
Visto o cenário, passemos ao herói. O herói, ou anti-herói, é Mick Travis. A postura subversiva e desafiadora do jovem é magistralmente personificada por Malcolm McDowell, no papel que o lançaria para a imortalidade de A Clockwork Orange e do seu mítico Alex DeLarge. E o carisma de McDowell não deixa dúvidas e permite ver em Mick Travis muito de Alex DeLarge.
Lindsay Anderson filma o seu filme mais controverso, talvez por pôr em causa os valores britânicos de religião e educação, com recurso a alternância entre cinematografia a cores e a preto e branco, divide o filme em capítulos e deixa-nos frequentemente na dúvida sobre a realidade na narrativa do que estamos a ver.
Apesar de haver imensas sequências memoráveis no filme, como a sensação contagiante de liberdade com a fuga dos crusaders da escola que é seguida pela fantasia selvagem de Travis com uma mulher, optei por relatar com imagens apenas uma cena, não é coincidência.
É a conquista. É o “grand finale” e é o supremo toque surrealista e alegórico do filme.
As discussões continuam e continuarão sobre se a cena encaixa no filme como sonho ou realidade. O que não será tão relevante como saber que encaixa na sociedade como símbolo da rebelião, da conquista, da juventude, do inconformismo. E encaixa em Mick Travis, nos crusaders e em nós como a inversão de poderes entre a sociedade e o indivíduo, como a rejeição da educação baseada na tirania, como a rejeição daqueles que obedecem para poder mandar, como a rejeição da repressão sexual tão familiar a Lindsay Anderson, como a afirmação da liberdade e da individualidade que o sistema insiste em negar.
Mick é a humanidade, a fantasia dentro do ultra-realismo.
Outro que me parece obrigatório! Gostei do texto e do paradoxo com que o fechas. Como Alex, no Laranja, o McDowell já tinha sido denunciador dos costumes britânicos de uma forma sinceramente genial.
ResponderEliminarUma pergunta - que achaste do Goodbye Lenine?
Peço-t desculpa por não te ter ainda respondido lá no fórum, tenho andado mto atarefado...
1 abraço :)
Na boa, sabes que não tem problema.
ResponderEliminarAdoro o "Goodbye Lenin!". É dos filmes que mais me são queridos, talvez por na altura esperar tão pouco dele. A magnificência de como se expõem os contrastes de forma tão descomprometida, o Daniel Bruhl, a banda-sonora do Yann Tiersen, tudo.
A sério? Tenho-o aqui e só bem me dizem dele. Quis saber a tua opinião. Vai calhar bem vê-lo nestes dias para estar dentro da matéria de História (ok, já estamos noutra, mas still...)
ResponderEliminarDepois direi o que achei ;)
Comprei o filme há uns tempos mas ainda parado na prateleira. Espero pelo momento "certo" para vê-lo. De qualquer modo estou certo que dificilmente me desagradará.
ResponderEliminarAbraço
Flávio, força. Não esperes uma obra-prima, isso não ajuda o filme, que até nem é pretensioso. Espera apenas ver a vitalidade desta nova vaga do cinema alemão. E a matéria de História é uma boa desculpa. :D
ResponderEliminarFilipe, podes crer que não vai. E mesmo que fosse, o McDowell nesta fase, só por ele valia a pena as duas horas.