segunda-feira, 29 de março de 2010

As Curtas - Je Vous Salue, Sarajevo

Je Vous Salue, Sarajevo, de Jean-Luc Godard


















De certa forma, o medo é a filha de Deus, redimida na noite de Sexta-feira Santa. Ela não é bela mas enganada, maldita e desapropriada de tudo. Mas não nos enganemos. Ela vela pela agonia de toda a humanidade, ela intercede pelo Homem. Para isso há uma regra e uma excepção. A cultura é a regra e a arte é a excepção. Todos falam da regra: os cigarros, o computador, as camisas, televisão, turismo, guerra. Ninguém fala da excepção. Não é falado. Está escrito: Flaubert, Dostoyevski. Está composto: Gershwin, Mozart. Está pintado: Cézanne, Vermeer. Está filmado: Antonioni, Vigo. Ou é vivido, e ali está a arte de viver: Srebenica, Mostar, Sarajevo. A regra é desejar a morte da excepção. Assim a regra da cultura europeia é organizar a morte da arte de viver que se mantém florescente. Quando chegar a hora de fechar o livro, não sentirei nenhum pesar. Vi tanta gente viver tão mal e tantos morrer tão bem.

Em dois minutos, Godard manipula-nos com diversos segmentos da mesma fotografia, que retrata abusos durante a Guerra dos Balcãs, a mais crítica situação vivida na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Com um texto mais reflexivo do que alguns com que Godard nos presenteou e com música de Arvo Pärt, um belíssimo ensaio sobre a guerra, a fotografia, a manipulação e a perspectiva.

3 comentários:

  1. Um blog que coloca Godard num primeiro e terceiro post, merece a minha atenção :)

    Abraço e boa sorte

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  2. É um seguimento belíssimo, sim. A verdade do monólogo assusta-me. Ou a capacidade de nos manipular, como disseste. Muito bom.

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  3. Obrigado.

    Quanto a Godard, haverá mais num futuro próximo.

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