segunda-feira, 17 de maio de 2010

A Single Man

A Single Man, de Tom Ford.



















A Single Man. Uma casa de vidro. Uma morte inesperada. Um amor interrompido. Uma dia difícil. Um Homem Singular.

Que estreia impressionante de Tom Ford. Deixa a estranha sensação de querer ser grande e épico a cada cena, através da banda-sonora de Abel Korzeniowski e principalmente da fotografia desafiante e deslumbrante, que é o que de mais singular tem A Single Man. Tanto que nunca tive tanta dificuldade em escolher os nove fotogramas para o post. Os sucessivos e expressivos close-ups e o uso da cor parecem importados do mundo da moda e usados compulsivamente por este artista inesperado, num filme tremendamente pessoal. E sabem que mais? Resultou.

Colin Firth e Julianne Moore estão irrepreensíveis. Os olhos de Nicholas Hoult hipnotizam. O mise-en-scéne é fabuloso. Nem sentimos a viagem até aos 60’s. Los Angeles está surpreendentemente bela, mesmo perante a ameaça soviética. O medo diz pouco a George Falconer, que afirma não querer viver num mundo sem sentimentos. Ou não querer viver de todo? Há algo nele que me soa a tortuosamente verdadeiro. A tortuosamente familiar.

É um dia sério, diz ele a Carlos depois de mais uma belíssima cena, fixamente observado pela Janet Leigh do poster de Psycho. A partir daí, o filme entra na sua segunda parte. Para mim menos exuberante que a primeira, apesar da revigorante visita a casa de Charley. Tom Ford intercala desde o início a acção com sequências subaquáticas e com sequências da vida de George com o parceiro entretanto falecido, que mostram o amor na mais pura das suas representações, o dia-a-dia.

Caminhamos para o final com as atenções a centrarem-se na relação entre George e Kenny. Tom Ford teve notável cuidado e prazer em filmar Nicholas Hoult. Kenny é filmado como algo quase sobrenatural, como uma força imensa. O olhar atravessa a câmara. Kenny revitaliza George. Estará George disposto a renascer?

A Single Man. A perda. A paranóia da Guerra Fria. A solidão. O pedaço de vida. A casa de vidro. Um Homem Singular.

Em comemoração do dia 17 de Maio, agora duplamente especial.

16 comentários:

  1. E que óptima sugestão! Viste-o hoje? Ainda não consigo escrever sobre A Single Man, ainda o estou a digerir - após muitas idas ao cinema. Foi um filme muito, muito importante para mim como deves já imaginar, quer pessoalmente quer a nível de relação com o cinema e a sua essência. É um filme singular, como o próprio titulo indica, uma adaptação literária suprema e íntima. Um irreconhecível Colin Firth, uma linguagem visual explosiva aliada a uma banda sonora belíssima, estonteante. É uma reflexão misteriosa sobre o significado último de sentir, de viver, de reconhecer o mundo tal como ele deverá ser figurado. É a descoberta da alma na mais importante das decisões - da destruição das mesma. É... é... tudo isso e muito mais! :)
    As imagens foram bem escolhidas. Se cabesse a mim, escolhia cada frame ;)

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  2. Não, não o vi hoje. Também o vi o cinema. Postei-o hoje por causa do Dia Mundial contra a Homofobia e Transfobia e por causa da promulgação da lei.

    Exactamente. Este é mesmo daqueles que apetece escolher os frames todos.

    É mesmo isso. Ainda estou para entender como é que o filme "resulta". Esta aposta tinha tudo para acabar num filme desequilibrado e sem conteúdo, mas acabou no mais estimulante de 2009.
    Nota-se que este foi pessoal, vamos ver o que o Tom Ford faz a seguir...

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  3. Belíssimo, sem dúvida. Também eu tentei escrever sobre Um Homem Singular e fiquei por meia dúzia de palavras, se tanto. Com a saída em DVD, irei certamente revê-lo muitas vezes e, quando me sentir preparado, escrever sobre a sua causa. Gostei do texto!

    P.S.: O meu sempre presente destaque para Julianne Moore, que além de estar lindíssima, consolida-se como um "monstro" da interpretação. Que prestação fabulosa, a par de Firth, claro.

    Abraço

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  4. Sinceramente nem tenho palavras já, além das já usadas na crítica no blogue, para falar sobre o filme. É soberbo, já tenho o DVD em mãos e adoro.

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  5. Já tens o dvd? Tinha mesmo a impressão que só saía no Verão.

    Ambos os actores me surpreenderam bastante. A Julianne Moore está fantástica na cena em casa dela, que é um carrossel emocional.

    Fico à espera das vossas palavras.

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  6. Não sei bem que achar deste filme, por um lado aborrece-me a pretensão do realizador em tornar óbvio aquilo que devia ser passado de forma subtil, como aquela sensação de viver o mundo pela última vez. Assim, a técnica acaba por soar muito a falso. Mas realço a dupla interpretação, que está de tirar o fôlego.

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  7. São opções de focalização relativamente à personagem. Pelo menos a mim não "estraga" nada, já que é algo assumido à partida. :)

    Mas em relação a um retrato mais subtil do "viver o mundo pela última vez", aconselho-te seriamente a ver o Le Feu Follet:
    http://cameloleaoecrianca.blogspot.com/2010/04/le-feu-follet.html

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  8. Um retrato íntimo, de pura beleza, nunca vi - nesses anos últimos - um filme tão denso e de uma narrativa sublime. De fato, teu texto demonstra toda a característica e teor do filme.

    E quero revê-lo! degustá-lo mais. Again...

    teu blog é muito bom, te sigo, parabéns!
    já linkei ao meu.

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  9. Sim, as visualizações não lhe pesam. Dá gosto rever.

    Obrigado. Também já tenho explorado algumas vezes o teu imenso blog.

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  10. Você usa qual programa para retirar essas belas imagens dos filmes em dvd? aguardo resposta.

    Usa MSN? Abraço

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  11. Não, de facto não sou grande fã do msn.

    Não uso nenhum programa em especial, faço screenshots normalmente.

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  12. Será que me podias enviar o teu e-mail para o geral.cineroad@hotmail.com ?

    Tenho um convite para te fazer.

    Obrigado.

    Cumps.
    Roberto Simões
    » CINEROAD - A Estrada do Cinema «

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  13. Muito bem escrito! A Single Man é um pedaço de arte espectacular e completamente fora dos paradigmas cinematográficos.

    Abraço
    Cinema as my World

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  14. Muit bom. Excelente interpretação!

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  15. Verdade, do mais desafiante que chegou às salas portuguesas nos últimos anos.

    E sim, Colin Firth e Julianne Moore estão fantásticos, principalmente o Colin, num papel que pode definir uma carreira.

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